domingo, 21 de junho de 2015

Em Juazeiro do Norte Collor fez o famoso discurso: "nasci com aquilo roxo!"

Quando no processo do impedimento do Collor , os estudantes da UFBA (Bahia) fizeram diversos cartazes , aqui postarei o que achei mais pertinente.

Em Juazeiro do Norte o Presidente Collor falou diante  do Memorial do Padre Cícero e na Calçada da Casa do Meu pai a seguinte frase, que inclusive postarei todo o histórico.

"EU NASCI COM AQUILO ROXO"

Com o intuito de dizer que era macho, forte e que ninguém lhe retiraria do posto de Presidente, os estudantes saíram com essa:

 

" FORA  PRESIDENTE COLLOR, O NOSSO AQUILO NÃO AGUENTA MAIS".

E O MESMO ESTÁ ACONTECENDO COM A PRESIDENTE DILMA

Iderval Reginaldo Tenório

 

sexta-feira, 15 de julho de 2011


Em Juazeiro Collor fez o famoso discurso: "nasci com aquilo roxo!"

Centenário de Juazeiro do Norte # 93

A consolidação de Juazeiro como a "capital da fé do Nordeste" traz inúmeros benefícios à cidade, como o crescente turismo religioso e, consequentemente, o aquecimento da economia local por conta das romarias. E o fato de atrair tantos romeiros traz na esteira outras visitas inevitáveis: as de políticos querendo o contato direto com milhares e milhares de romeiros nas ruas e igrejas de Juazeiro do Norte.

No histórico de candidatos à presidência da república que visitaram Juazeiro do Norte, Fernando Collor de Melo foi um dos que mais esteve na terra do Padre Cícero, desde o tempo em que era Governador do Estado de Alagoas (já que muitos romeiros vêm daquele estado). Na campanha presidencial de 1989, Collor fez passeatas e comícios em Juazeiro, ao lado do "trunfo religioso" Frei Damião. Jogada certeira de marketing político, atraindo a simpatia de devotos católicos nordestinos. E sabemos o desfecho daquela eleição: Collor foi eleito presidente, vencendo no segundo turno Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas o episódio que queremos destacar aqui ocorreu em Juazeiro quando Collor já (ou ainda) era o Presidente da República. Na manhã do dia 3 de abril de 1991, uma quarta-feira, cerca de 30 mil pessoas se espremiam na Praça do Memorial Padre Cícero para assistir ao discurso do Presidente Collor, que estava destinando, naquela época, milhões de cruzeiros (moeda da época) para o crédito no Nordeste, outros milhões para frentes de trabalho no Ceará, outros tantos para drenagem de rios em Fortaleza e mais uma verba de mais de 6 bilhões para saneamento em Juazeiro do Norte.

Acontece que nem tudo foi festa. Nem só de juazeirenses agitando bandeiras em verde e amarelo estava formado o público. Manifestantes de partidos de esquerda e de centrais sindicais marcaram presença, esperando o Presidente aparecer para hastear faixas com dizeres como "pela derrubada do Governo Collor" (o que na época a Revista Veja chamou de "slogan imbecil") e gritar coisas como "queremos Collor fora do Brasil". Logo começou a confusão: secretários do Governo e os seguranças da presidência partiram para o ataque, começando uma guerra de socos e pontapés, com vários feridos (incluindo ruptura do baço de um manifestamte, quebra de dente de outro, etc.).

No palanque, mesmo com a presença de Frei Damião, o clima também não era dos mais amistosos. Além da presença do então prefeito de Juazeiro, Carlos Cruz, estavam outras autoridades, como o Governador do Ceará, Ciro Gomes. A história conta que Ciro Gomes e Fernando Collor subiram no palanque após uma discussão entre eles: na versão de Ciro, Collor queria uma parceria com o Ceará com indícios de irregularidade, o que teria sido negado pelo governador; já Collor conta que Ciro Gomes estava com medo dos manifestantes do PT e da CUT.

O fato é que todo esse clima tenso foi parar no discurso do Presidente Collor, que acabou improvisando, não só no conteúdo do discurso como na linguagem utilizada, o que propiciou um discurso inflamado (sem trocadilhos). O trecho mais conhecido da fala foi o que diz que ele nasceu "com aquilo roxo" (maquiando um pouco a expressão popular "saco roxo"), que ganhou repercussão em todo o Brasil, anos depois virou até joguinho pra computador e entrou para a história como uma fala raivosa (ou hilária?) do mandato de Fernando Collor: "nem tenho medo de assombração, nem tenho medo de cara feia, isso o meu pai já me dizia, desde que eu era pequeno, que eu havia nascido com aquilo roxo, e tenho mesmo, para enfrentar todos aqueles que querem conspirar contra o processo democrático".

Juazeiro, então, acabou ganhando repercussão nacional com mais esse episódio. E pode-se dizer também que foi um dos primeiros protestos explícitos de grande divulgação contra o Governo Collor, que somente um ano mais tarde ganharia "forma organizada" com os "caras-pintadas", que marcharam por vários cantos do país. Resta saber se depois do impeachment a Revista Veja continuou chamando de "slogan imbecil" o pedido de afastamento de Collor da Presidência.
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Leia abaixo o discurso de Fernando Collor em Juazeiro do Norte, no dia 3 de abril de 1991, publicado na edição do dia seguinte do jornal Folha de São Paulo:

"Minha gente amiga do Juazeiro, minha gente amiga do Ceará, há mais ou menos um ano atrás, eu aqui estive, em Juazeiro, caminhei do campo de pouso até o Franciscano, junto com milhares de vocês, para trazer a mensagem de paz, a mensagem de futuro, a mensagem de esperança para todos vós nordestinos.

Naquela data, em que aqui estive, o nosso frei Damião comemorava seus 91 anos, e eu me lembro bem que, quando entramos no Franciscano, havia um bolo muito bonito, preparado para frei Damião, em cima do bolo, uma imagem de São Francisco; depois que cantamos os parabéns para frei Damião, e depois que ele cortou uma fatia do bolo, ele retirou a imagem de São Francisco, entregou-a a mim dizendo: ‘Presidente, eu quero que esta imagem lhe acompanhe até o palácio do governo’, e lá está São Francisco, ainda hoje na minha sala.

Dizia também a Frei Damião que, se eleito presidente, pela vontade soberana da imensa maioria do povo brasileiro, eu voltaria aqui a Juazeiro, para agradecer a cada um de vocês a extraordinária vitória que concederam ao jovem candidato a presidente, do Nordeste, Fernando Collor.

Todos vocês sabem que eu venho daqui de perto, que venho das Alagoas, Estado que anualmente manda e envia muitos de seus filhos para participar da semana dedicada ao nosso querido Padre Cícero. Venho das Alagoas, terra sofrida, terra digna e terra que, como o Ceará e todo o Nordeste, precisa e merece, e haverá de ter, o apoio integral deste governo para promover o seu desenvolvimento e a sua justiça social.

Vocês sabem como é difícil para o nordestino se firmar no cenário nacional. Saí do governo de Alagoas, dois anos e dois meses de governo, lutando contra os poderosos, contra aqueles que humilhavam o nosso povo, e ia para a frente da luta, para a batalha direta, ofensiva, e não me escondia jamais numa (...) de gente histérica, gritando contra isso ou contra aquilo. Não, não, eu lutei e encarei sozinho todos os meus adversários, nunca me vali da formação de qualquer tipo de aglomerado para fazer valer as minhas idéias e as minhas posições, e isso, minha gente, fez com que, saindo de Alagoas, vocês nem podem imaginar a dificuldade, saindo de Alagoas, conquistasse a confiança de toda a população brasileira, de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Amazonas e do Rio Grande do Sul, o que permitiu pela primeira vez, em cem anos de história, que um nordestino assumisse a Presidência da República pelo voto direto, pelo voto soberano.

Temos já passado um ano de governo, e temos ainda quatro pela frente com inúmeros desafios a vencer. Eu comparo, minha gente, eu comparo a situação em que encontrei o Brasil como uma casa prestes a desmoronar, uma casa em ruínas, não adiantaria a gente construir apenas uma parede, porque a outra ficava apensa e ameaçava cair, não adiantava a gente sustentar o telhado com um pedaço de caibro, porque de qualquer maneira outro pedaço de telha poderia cair, então o que nós tivemos de fazer: reduzir isso, deixar apenas o alicerce, para partir do alicerce bem feito, construir uma nova sociedade, construir um novo Brasil, mais justo, mais fraterno, mais solidário, e é exatamente, minha gente, nesta toada que nós estamos caminhando.

Vocês me conhecem, e sabem que eu sou homem de enfrentar desafios, eu enfrento todos os desafios que foram colocados diante de mim, não nasci com medo de assombração, nem tenho medo de assombração, nem tenho medo de cara feia, isso o meu pai já me dizia, desde que eu era pequeno, que eu havia nascido com aquilo roxo, e tenho mesmo, para enfrentar todos aqueles que querem conspirar contra o processo democrático.

Nós vivemos hoje numa democracia, numa democracia em que o povo fala, o povo decide pelas urnas, as urnas deverão ser respeitadas neste país, pelo menos enquanto eu estiver na Presidência da República Federativa do meu querido Brasil.

Mas, minha gente do Juazeiro, meu prezado governador, prefeito, presidente do Senado e do Congresso Nacional, que é do Ceará, deputados amigos que aqui estão presentes, e que nos dão sustentação parlamentar no Congresso Nacional.

Ao chegar hoje a Juazeiro, eu venho também com a oportunidade que Deus me deu, na presença de frei Damião e de frei Fernando, trazer recursos para Juazeiro, para o seu sistema de água e para o seu esgotamento sanitário, para o seu saneamento. Esses recursos são da ordem de 7 bilhões de cruzeiros, que serão investidos pelo seu prefeito nos próximos anos, trago também recursos para a capital Fortaleza, para o governador Ciro poder de alguma (...) ser auxiliado no trabalho de contenção que sempre as chuvas trazem quando caem mais fortemente sobre a nossa Fortaleza. Trago também 900 milhões para auxiliar nas frentes de trabalho que foram criadas aqui no Estado, e, mais do que isto, uma boa notícia para todos os pequenos agricultores: determinei ao Banco do Nordeste que libere 15 bilhões de cruzeiros para o crédito agrícola dos pequenos produtores.

Eu quero que vocês aproveitem essa chuva que caiu por aí, para que possa plantar, e rezar a Deus, com a ajuda de frei Damião, para que venha em seguida, uma água que dê para regar, frutificar e nós termos uma boa colheita este ano, com a graça de Deus.

Minha gente amiga do Juazeiro, vocês podem estar certos de que eu estou em Brasília, naquele Palácio do Planalto, mas o meu coração e o meu pensamento estão voltados aqui para a minha terra, para o resto do Nordeste. Eu não acredito que possamos construir um Brasil desenvolvido se nós não pudermos investir maciçamente no Nordeste, e investimento tem que ser, minha gente, para permitir a implantação de novas indústrias, para desenvolver pólos industriais, de modo que esses polos gerem empregos, gerem renda, distribuição de riqueza, enfim, progresso e prosperidade para a população nordestina.

É exatamente isso que nós estamos tratando de fazer, para nós termos o nosso trabalho mais facilitado e mais produtivo é necessário um entendimento entre os diversos setores partidários da vida pública brasileira. Eu sei que todos vocês querem, porque este é um sentimento de Norte a Sul, de Leste a Oeste do país, o povo está querendo que suas lideranças políticas encontrem formas e maneiras de poder conviver, de uma forma que traga benefícios e bem estar social para a nossa população carente, e é exatamente isso que nós estamos aqui promovendo, o entendimento das diversas facções políticas do país, não só do Ceará, do país e do Nordeste, porque sempre com entendimento, com bom senso, com razão, com a conversa, e com diálogo é que nós poderemos trazer efetivamente mais e maiores benefícios para a população que mais necessita desses benefícios. É esse entendimento, é essa união nacional em que eu acredito firmemente, que eu lanço, aqui mais uma vez no Juazeiro, aproveitando as palavras ditas pelo governador do Ceará, que entende ser necessário deixarmos de lado divergências partidárias e ideológicas, para juntos, unidos, firmes, trabalharmos em favor do Ceará e do Brasil. Obrigado, minha gente, até outro dia."
(Folha de São Paulo, 04/04/91)

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