sexta-feira, 13 de março de 2015

O NAMORO, DONA ZEFINHA E O CACHORRO JOLY


                                                         




                                                      O NAMORO
              
E o casal de namorados  na varanda da grande casa usufruía da maravilhosa brisa.
                  Sentados num belo e largo banco  de madeira, os jovens   cochichavam o seu namoro, dos lados,  dois grandes jarros com os seus pontiagudos alfinetes, nos fundos, algumas touceiras de capim santo e espadas de São Jorge, deitado por debaixo do banco o seu belo cachorro Joly , pançudo, pelos cinzas, patas grossas e   orelhas caídas , de vez em quando balançava o  seu lento rabo, abria cansadamente  os  redondos olhos e voltava aos braços de morfeu, na sua frente a empedernida  sogra, bucho grande, lenço branco na cabeça,  óculos caídos sobre o  nariz, cesta de palha de carnaúba na qual armazenava grandes novelos de linhas aveludadas e  de cores diferentes , duas  pontiagudas agulhas e os olhos bem atentos ao neófito casal.

    De quando em vez subia um odor sulfurado que inundava toda a varada, de imediato o rapaz lamuriava:

              ___Sai daqui Joly, êita cachorrinho danado.

                              A sogra levantava o ossudo queixo, sorrateiramente conferia o indelicado odor, numa manobra automática espiava o casal  por cima dos óculos dobrando   o queixo sobre o pescoço , ajeitava os óculos no adunco nariz com o fura bolos e continuava  a sua costura  artesanal como se nada tivesse acontecido.

                             O  casal continuava o seu namoro, sempre em silêncio, sem muitas conversas , angelical; e a velha a bisbilhotar, como disfarce, o crochê. 

                      De vez em quando o horrendo  e ocre cheiro de ovos podres  inundava a vigiada varanda, mais  vezes   a lamuria do pacato rapaz sobre o cachorro Joly e sempre acompanhada dos gestos de desaprovação da atenta e cuidadosa sogra . Depois da quinta ou sexta queixa do educado moço, a matriarca levanta o rosto, ajeita o piscinez, se arruma na cadeira de couro e com o dedo em riste, eleva a voz  e vocifera  com o seu belo e dorminhoco cachorro Joly:

                             ___Saia mesmo  Joly se não este homem lhe caga, a coisa tá é feia.

                                      Iderval Reginaldo Tenório

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