domingo, 21 de setembro de 2014

JOÃO SERTÃO- Agreste Pernambucano 1970


JOÃO SERTÃO

Agreste  Pernambucano 1970

Saia da velha rede se espreguiçava no meio da sala do Coração de Jesus e do Padre Cícero, dois quadros pendurados na parede, ia direto para um capão de mato  deliberadamente preservado nos fundos das casas  para servir de privada, está aí a premissa do caipira,  quando precisa  verter água ao chegar à cidade  na casa dos que se acham grã-finos, pergunta
 ” ONDE FICA O MATO DESTA CASA?” .
 Adentrava a pequena capoeira, fazia as necessidades e como gato cobria com areia. Voltava pelo mesmo caminho, lavava o rosto na mesma bacia que todos usavam, muitas vezes utilizava a mesma água, devido à escassez do precioso líquido naquelas plagas, este costume fazia com que as doenças oculares e palpebrais se espalhassem com facilidades pelos sertões nordestinos, era O TRACOMA o mais beneficiado e tome pomada de tetraciclina nos cantos dos olhos.
Uma xícara de café pelando com resto de pó, revigorante feito numa amassada lata de flande,  pendurada por um grosso arame ao telhado e que descansava na trempe do fogão  a lenha, vasilhame este  comprado na feira com óleo de caroço de algodão e aproveitado como chaleira depois de vazia, nada era jogado no lixo, tudo era reciclado e servia como utensílio doméstico.
Enxada  nas costas, cabaça d’ água a tiracolo, bornal  com meio quilo de farinha grossa e três tacos de rapadura, tomava o caminho da roça e de roçado adentro lá se ia o sertanejo puxando cobra para os pés, pés chatos, barba rala por tirar, pele grossa e ensebada , cigarro de fumo grosso, chapéu de palha, cabeça baixa, coluna curva, braços indo e vindo no manejo da enxada, empurrada pela mão  direita, deslizava na esquerda   e  puxada pelas duas, era a dança da capinagem.
O sol começa a se pôr, a barra surgia no horizonte e os pássaros iniciavam o movimento de se aninharem nas peladas copas da caatinga , olhava para trás e via de 10 a12 carreiras de matos ceifados pelo fio da ferramenta, olhava para o céu, tirava e botava o suado e fedido chapéu, limpava a enxada com a faca peixeira que saia de uma trabalhada bainha de couro escanchada entre a calça e o cinturão de couro cru, jogava nas costas e tomava o caminho de casa, armado de uma soca-soca abatia alguns nambus ou preás neste percurso.
Chegava em casa, enxada detrás da porta, entregava a caça para a mulher, enchia o bucho com farinha e feijão, tomava uma talagada de café, mais tarde lavava as canelas e os pés, despojado sentava num tronco do terreiro, contava as estrelas, acompanhava os movimentos da lua e caía moído na mesma e emolambada rede velha, quando menos se esperava, já era cinco da manhã , o mesmo tinido , os mesmos costumes e lá se ia a vida passando.
Chegava o domingo, calça e alpercatas novas, tomava o único banho da semana, brilhantina na cabeleira , os couros de ratos no bolso, lá se ia o João Sertão,  sem lenço e sem documentos para a feira na vila mais próxima, ia comprar o fósforo, o fumo, o sabão, o querosene, os bregueços da casa como pratos, colheres, panelas, canecos e a munição de boca, o café, o açúcar, o alho, o feijão, o toucinho, a farinha da grossa, a rapadura, o sal e quando dava um naco de carne de charque, era duro, era assim a vida do sertanejo  , era trabalho, muito trabalho e abandono, mais abandono e muito trabalho.

Iderval Reginaldo Tenório

PATATIVA DO ASSARÉ - SENHOR DOUTOR - YouTube

www.youtube.com/watch?v=RTEfYnMNNpc
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Festival Massafeira 1979, Patativa do Assaré obteve no evento: "o festival foi responsável pelo ...

Goiano e Paranaense - O Doutor e o Caipira - YouTube

www.youtube.com/watch?v=i62iMbLhL0Q
28/10/2010 - Vídeo enviado por Carlos Albano Filho
Música Boa,Nunca enjoa!! Moda sertaneja sempre será eterna,pelo menos até quando existir a ...

Um comentário:

  1. Almira Reuter de MIranda21 de setembro de 2014 às 15:09

    Gosto muito da sua narrativa.Já fui muito no mato rsrrs, só não lembrava em cobrir rsrrs como um gato. Meu abraço

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