sábado, 15 de março de 2014

UM DOS MAIORES HOMENS DO BRASIL- LUIZ GAMA CONHEÇAM.

 


LUIZ GAMA


 
Luís Gonzaga Pinto da Gamanota 1 (Salvador, 21 de junho de 1830São Paulo, 24 de agosto de 1882) foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro.
Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo feito escravo aos 10, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado "o maior abolicionista do Brasil".1
Apesar de considerado um dos expoentes do romantismo,2 obras como a "Apresentação da Poesia Brasileira", de Manoel Bandeira, sequer mencionam seu nome.3
Teve uma vida tão ímpar que é difícil encontrar, entre seus biógrafos, algum que não se torne passional ao retratá-lo — sendo ele próprio também carregado de paixão, emotivo e ainda cativante.4 A despeito disto o historiador Boris Fausto declarou que era dono de uma "biografia de novela".5
Foi um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro; pautou sua vida na defesa da liberdade e da república, ativo opositor da monarquia, veio a morrer seis anos antes de ver seus sonhos concretizados.6
São Paulo, onde viveu Gama quarenta e dois anos, era em meados do século XIX uma ainda acanhada capital de província que, com a demanda da produção cafeeira a partir da década de 1870, contudo, viu o preço dos escravos atingir um preço que tornava quase proibitiva sua posse urbana. Até este período, contudo, era bastante comum a propriedade de "escravos de aluguel", sobre cujo trabalho seus donos hauriam a fonte de sustento, ao lado dos ditos "escravos domésticos".7 nota 2
Tinha uma população dez vezes menor que a da Corte (Rio de Janeiro), e uma presença da cultura jurídica bastante acentuada pois, desde 1828, ali se instalara uma das duas únicas faculdades de Direito do país, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que acolhia alunos de todo o país, provindos de todas as camadas sociais — além dos filhos da oligarquia rural, membros da elite intelectual que então se formava (Gama a definiu, então, como "Arca de Noé em ponto pequeno").6
Sobre sua mãe, cuja figura mais tarde seria mitificada pelo Movimento Negro, Gama registou, numa carta autobiográfica que enviou em 1880 a Lúcio de Mendonça:8
"Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina (Nagô de Nação) de nome Luíza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.
Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, insofrida e vingativa.
Dava-se ao comércio – era quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos, que não tiveram efeito.
Era dotada de atividade. Em 1837, depois da
Revolução do dr. Sabino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856 e em 1861, na Corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas que conheciam-na e que deram-me sinais certos, que ela, acompanhada de malungos desordeiros, em uma “casa de dar fortuna”, em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus informantes que esses ‘amotinados’ fossem mandados pôr fora pelo governo, que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos como provocadores. Nada mais pude alcançar a respeito dela".nota 3
A despeito deste relato, pesquisas de Lígia Fonseca Ferreira dão conta de que há contradições entre a narrativa de Gama a Lúcio de Mendonça e um seu poema intitulado "Minha Mãe", de 1861, onde ressalta a fé cristã materna — concluindo que esta seria uma figura "criada" por Gama; a pessoa de Luíza Mahin é lembrada em obra posterior (1933), de Pedro Calmon, que romanceou a Revolta dos Malês em "Malês: a insurreição das senzalas", onde este construiu a imagem de que ela teria sido a causa do fracasso do movimento.8
O próprio Calmon, e também Arthur Ramos, voltaram a tratar de Mahin no contexto revoltoso, este último construindo-lhe a imagem de heroína, que é mantida pelos movimentos negros.8
Sobre o pai, Gama omitiu, na mesma carta, o nome:2
"Meu pai não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas, neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo e pertencia a uma das principais famílias da Bahia de origem portuguesa. Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome.
Ele foi rico; e nesse tempo, muito extremoso para mim: criou-me em seus braços. Foi revolucionário em 1837.nota 4 Era apaixonado pela diversão da pesca e da caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos: esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836; e reduzido a uma pobreza extrema, a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luiz Cândido Quintela, seu amigo inseparável e hospedeiro, que vivia dos proventos de uma casa de
tavolagem, na cidade da Bahia, estabelecida em um sobrado de quina, ao largo da praça, vendeu-me, como seu escravo, a bordo do patacho "Saraiva"."nota 5
Na carta, descreve assim seu nascimento e primeira infância:2
"Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da Rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguesia de Sant'Ana, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica."
Lígia Ferreira ainda assinala que estas informações não puderam ser comprovadas, embora realce que o sobrado em que situa seu nascimento ainda exista; o registo de seu batizado não pôde ser encontrado, e junta a isso o fato de que a omissão do nome paterno em seu relato lança dúvidas sobre sua real identidade.
Escravidão e liberdade[
Uma vez vendido como escravo, é levado para São Paulo onde permaneceu analfabeto até os 17 anos.1
Posto à venda, é rejeitado "por ser baiano" — uma condição que dava aos cativos a fama de insubordinados e acaba sendo levado para a casa de um comerciante.4
Em São Paulo Gama viria a passar por várias "metamorfoses" únicas: fora criança livre e ali feito escravo, e depois a homem livre; de analfabeto a integrante do mundo das letras; exerceu diversas profissões e posições sociais: escravo do lar, soldado, ordenança, copista, secretário, tipógrafo, jornalista, advogado, autoridade da maçonaria.2
Permanecem obscuros, contudo, os artifícios utilizados por Luiz Gama para obter sua liberdade, sendo aventada a possibilidade de que, para tal, tenha se utilizado do depoimento do pai — cuja identidade ele próprio zelava por manter obscura.
 
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