quarta-feira, 5 de março de 2014

Formato e cor da vagina raramente indicam uma doença

Formato e cor da vagina raramente indicam uma doença

Cirurgias na região podem causar perda da sensibilidade e prejudicar vida sexual

   


 Não é incomum ouvirmos relatos de pacientes que sentem dificuldades com o próprio corpo, achando inúmeros defeitos que só elas observam. Existe na nossa sociedade um controle da beleza de forma ditatorial e qualquer coisa fora deste padrão deixa de ser bonito ou normal.
 Quando o assunto é a região genital feminina, a situação fica ainda mais complexa. Isso porque não existe um padrão de cor, tamanho e proporção dos grandes e pequenos lábios. É importante salientar que, na grande maioria dos casos, essas características não apresentam relação direta com o prazer, higiene ou dificuldades durante a relação sexual. 
 As exigências cada vez maiores do mundo moderno têm feito com que a mulher observe também essa região e estabeleça um novo padrão de beleza. Além dos cabelos, rosto, seios, formas, dentes, unhas e cílios, chegou a hora e a vez da vulva, que é a designação da área na entrada da vagina.
Alguns fatores levaram à maior observação e exposição desta área, como:               
  • A depilação radical que, hoje em dia, deixa mais regiões expostas. Os pelos formam uma camada de ar criando proteção local. Aparar e tirar excessos, mantendo uma faixa em volta dos grandes lábios seria o ideal. O raspar com lâminas ou cera quente levam ao aparecimento de inúmeras micro lesões de pele, além de traumas pelo atrito das roupas, que podem favorecer o aparecimento de infecções secundárias. A depilação a laser diminui esses problemas e pode ser definitiva, dependendo da pele e cor dos pelos
  • O crescimento, permissividade, divulgação e consumo da indústria pornográfica (sem entrar no mérito de ser contra ou a favor), com censores que selecionam modelos brancas, esculturais, mostrando as regiões genitais róseas, simétricas, sem pelos, beirando o infantil e ingênuo
  • Toda uma indústria de sabonetes, perfumes, lencinhos, absorventes e cremes focadas neste segmento que, de uma maneira subliminar, mostram que uma genitália feminina pode ser feia, suja, com uma umidade "não normal" e com odor pouco agradável que "deve ser tratado". Com isso, pode-se estimular um excesso de higiene e fazer com que a mulher perca a proteção natural da pele, contribuindo para o aparecimento de infecções ou alergias
  • As roupas e biquínis arrojados devem ser mais colados para que a silhueta, inclusive com calças jeans, mostre a proeminência dos grandes lábios
  • Não é incomum o uso de editores de imagem para ajustar vulvas em que os pequenos lábios não sejam róseos, simétricos, que não ultrapassem os grandes lábios ou que o clitóris fique muito aparente.
Com isso, vemos um sem número de mulheres inconformadas com a cor, tamanho, ou simetria da vulva, criando uma falsa necessidade de tratamento e insatisfação com o próprio corpo.

Quando a anatomia da vulva realmente é um problema?

 Durante a formação embrionária da região genital, podem acontecer mal formações e anormalidades do desenvolvimento da vulva, vagina, útero, vias urinárias e intestino. Estas, mais graves, podem levar a mulher a riscos, e por isso devem ser avaliadas, discutidas e tratadas com profissionais competentes. Essas, entretanto, são a minoria entre as pacientes, cujas queixas mais frequentes têm fundo estético.
Apesar das cirurgias terem quadruplicado em alguns países nos últimos oito anos, não observamos um aumento da felicidade e qualidade da vida sexual das mulheres nesta mesma proporção
 A maior queixa que observamos são as hipertrofias e assimetrias dos pequenos lábios. Devemos lembrar que eles, principalmente a parte superior que recobre o clitóris, apresentam maior sensibilidade e contribuem para o prazer durante a relação. Muitas cirurgias estéticas são apenas amputações grosseiras e podem diminuir a sensibilidade local. Algumas técnicas podem ser mais eficazes, reduzindo a possibilidade de perda desta sensibilidade. Portanto, antes de se submeter a qualquer procedimento de labioplastia (cirurgia que reduz os grandes e pequenos lábios ou muda a sua forma) informe-se bem sobre as opções.
 A segunda queixa igualmente frequente é a respeito da coloração da região. Em nossa cultura, o loiro é belo. Como nossa população é na maioria morena, o acúmulo de melanina nesta região faz parte da nossa genética. A fricção de roupas ou da própria pele, depilações, infecções, diabetes, gestações e a idade podem piorar este quadro. Estas manchas podem ser atenuadas com laser, cremes e outros produtos indicados por especialistas.
 A terceira queixa é a diminuição da gordura dos grandes lábios com o envelhecimento. Esta mudança pode ser atenuada pelo preenchimento da área com gordura de outra parte do corpo.
 O tamanho do clitóris também aparece na lista e a causa deve ser investigada, pois pode estar relacionada a problema hormonal, uso de hormônios ou anabolizantes. Existem cirurgias que podem diminuir sem a perda da sensibilidade local.
 Em resumo, é nesta região onde se concretiza a relação sexual. Muitos problemas com o corpo, com a sexualidade e seu desenvolvimento, abusos na infância e outras questões se escondem por trás de uma queixa puramente estética, de higiene ou de conforto. E isso independe do nível socioeconômico e cultural.
 A mulher deve discutir o caso com uma equipe multiprofissional que inclua um ginecologista, psicólogo ou sexólogo antes de pensar em cirurgias agressivas. Como o procedimento normalmente é irreversível, pode haver ainda mais frustração por não ter sido resolvido o problema psicológico de base. Vale lembrar que hipertrofias citadas não causam danos ou riscos para a mulher.
Apesar das cirurgias de preenchimentos e das labioplastias, cuja prática quadruplicou em alguns países nos últimos oito anos, não observamos um aumento significativo da felicidade e qualidade da vida sexual das mulheres nesta mesma proporção, muito pelo contrário.
Como diz Jessica Marie, dona da loja virtual Vulva Love Lovely, que confecciona produtos alusivos à genitália feminina: "As vulvas da indústria pornô são como os dragões: não existem no mundo real".
Antes de achar que você tem um problema, busque a avaliação de um profissional imparcial e tente identificar o que pode estar escondido por trás desta queixa. Leia mais nos sites abaixo. Recomendamos também uma olhada no painel de vulvas do artista plástico Jamie McCartney, que mostrou o quanto esta região pode ser diversificada, sem deixar de ser bonita

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