sexta-feira, 1 de março de 2013

O ENCONTRO DE DOIS GÊNIOS



 DOIS GÊNIOS
               PATATIVA DO ASSARÉ (DO CEARÁ) E LUIZ GONZAGA (DE PERNAMBUCO)
               FUI UM FELIZARDO: CONVIVI COM OS DOIS LÁ NO MEU JUAZEIRO DO NORTE

Quando Luiz Gonzaga perambulava nos sertões Nordestino, viu  no interior do Ceará dois violeiros chorando, choramingando e saboreando  a Triste Partida .  Parou, ouviu, escutou, também chorou , ajudou a cantar e de imediato perguntou:

____De quem é esta música, é de domínio popular ou tem autor conhecido?

Um dos violeiros disse ao então  sanfoneiro que já se esboçava ser,  o Rei de todos os ritmos.

___É de um poeta roceiro cearense lá da cidade do Assaré, chamado Patativa do Assaré.

O Rei logo foi dizendo  que queria conhece-lo, perguntou como chegaria até o homem, foi  de imediato orientado e no outro dia , lá estava o Rei defronte ao Patativa. Se apresentou, o Patativa se e emocionou com a presença do já grande artista. Luiz  Falou de sua intenção de gravar a música , colocaria alguns acordes , apenas  exigia que fosse feito um acordo: queria  parceria tambem na bela  letra.

O Patativa deu um pipouco da molesta e não aceitou, argumentou que a poesia era como se fosse  sua filha e filha não tem dois pais, Luiz entendeu o argumento e aceitou gravar a música A Triste Partida. Informou que queria apenas contribuir e impôs   uma condição : modificaria    a última estrofe , aliás, o último verso, só uma palavra e pronto que daria mais fidedignidade ao enredo da história , para isso utilizou o seguinte argumento.

 E disse Luiz ao Patativa do Assaré.

___A  última estrofe é assim:

 Faz pena o nortista,
 tão forte e tão bravo,
viver como escravo,
nas terras do Sul.

Perguntou  Luiz ao Patativa , se o Nortista sofre no norte, o Patativa disse que sim, perguntou se o nortista  sofre no sul, Patativa disse que sim, então Luiz disse com voz firme , conciliatória , convincente e apaziguadora:

___Então Patativa , o nortista  sofre no norte e no sul, ele é escravo tanto no norte como no sul, não é verdade? então gravarei a última estrofe com os seguintes versos, não sendo assim, seria uma injustiça nossa com o povo do sul , pois é exatamenteno sul  que nós nortistas escapamos da fome feroz. No sul o nortitsa sofre, é escravo, porem  Patativa, no Sul  ele vive, ele come, ele veste, ele cria a sua familia, no sul ele encontra   trabalho.


                                                                         
E Luiz modificou apenas um dos versos da última estrofe, dando alma,valor,fidelidade e fechando com chave de ouro a bela página  após convencer o autor, que lhe informou que era extamente o que queria dizer. E a música A TRISTE PARTIDA  virou um hino para o Brasil. E assim ficou a ultima estrofe, na voz doRei Luiz:


____Ficará assim, veja se não ficará melhor e mais fiel.

FAZ PENA O NORTISTA,
TÃO FORTE E TÃO BRAVO,
VIVER COMO ESCRAVO
NO NORTE E NO SUL.


Ficou o velho Patativa radiante e muito alegre , o Luiz como a maior expressão da música brasileira de todos os ritmos de todos os tempos e o Brasil presenteado  com o mais fidedigno relato do exodo Nordeste -Sul.

Triste Partida

Patativa do Assaré

Meu Deus, meu Deus. . .

Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai

A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai

Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem
Ai, ai, ai, ai

Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai

Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai

Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai

Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai

E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai

Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natá
Ai, ai, ai, ai

O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai

No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Seu filho choroso
Exclama a dizer
Ai, ai, ai, ai

De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai

E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai

E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos filho pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai

Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Procura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai

Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai

Se arguma notícia
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai

Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai

Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai


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