domingo, 30 de janeiro de 2011

O MENINO E A DELEGACIA

                                   HISTÓRIA  QUE MINHA MÃE CONTA



         Conta a minha mãe, que numa delegacia encontrava-se preso um jovem de 18anos de idade e que este levava surras diariamente,diziam os seus algozes que eram surras corretivas,surras necessárias para aqueles que se apoderam do que é dos outros.

           Certa manhã após a mais nova leva de surras,chamou o delegado e pediu encarecidamente , suplicante ,a presença de seus pais, principalmente da sua mãe.O delegado após relutância resolveu atender o seu pedido.Providenciou e fez chegar até o presidiário os seus genitores.

           Chegaram.Foram até à sala do delegado,houve a identificação e por último adentraram à cela do infeliz adolescente.A mãe trazia à cabeça um lenço florido,um pacote de frutas,um  de biscoitos e uma garrafa de mel.O pai de mãos vazias. Em respeito aos pais  ,o delegado informou que se retiraria para um melhor diálogo familiar, quando de repente, num rompante incompreensível disse o jovem ao delegado que aquela atitude não era a desejada, inclusive queria que o delegado convocasse todos os seus algozes para ouvir e presenciar aquela visita, e assim foi procedid
   

       Quando todos se encontravam na sala,o presidiário começou o seu relato
Sentado , voz trêmula e baixa, os olhos em lágrimas,moralmente abatido,lamentou a sua atual situação, o seu estado educacional,a sua personalidade e os conceitos sedimentados em sua mente,aprendidos e praticados durante toda a sua existência.


           Quando de repente,mais do que de repente,levantou-se,arregalou os grandes olhos,trancou a cara e com o dedo em riste apontado para os pais, vociferou:

           
            __ Velhos moleques,velhos safados,descarados,desonestos,irresponsáveis,vejam como me encontro hoje.

 O delegado fez menção de  intervir, o jovem retrucou.

_          ____Não seu delegado,não senhores soldados, eu preciso falar,eu preciso dizer alguma coisa. Vejam o filho que os senhores botaram no mundo e como criaram,vejam como hoje me encontro,preso como se fosse um bicho selvagem e alheio à socialização.


 Velhos levianos o que os senhores faziam quando eu chegava em casa com carrinhos e brinquedos não comprados pelos senhores,com bolas que o senhores nem sabiam de onde vinham.O que faziam quando eu saía e dizia que ia estudar e os senhores nunca,nunca  foram até a minha escola,não queriam saber como estavam as minhas notas,nunca foram conversar com os professores,nem sabiam onde eu estudava, aliás nunca se sentaram para me orientar. Depois com 14 anos,quando não dormia em casa , dizia que dormia nas casas dos amigos e os senhores nunca questionaram quem eram,onde moravam,o que faziam,quem eram os seus pais.Comecei a trazer para casa  bicicletas, relógios ,roupas bonitas e produtos alimentícios que os senhores comiam satisfeitos,enchiam as panças e não perguntavam de onde vinham,  como eram adquiridos.Assistiam tudo quanto era porcarias na televisão e achavam que eram corretos,filmes de assaltos,roubos,sexos e falcatruas . Votavam em homens conhecidamente desonestos ,muitas vezes desmascarados pela mídia e também achavam que este comportamento era normal.

Quantas e quantas vezes chegavam os cobradores e os senhores diziam:__ diga que não estamos, que estamos trabalhando, que não sabe a hora que chegaremos.

          ___Seu delegado eu nunca esqueço de um fato muito  vergonhoso:  um dia cheguei em casa já com   os meus 14 anos, quando minha mãe me disse.

        ___Filho,pule o muro de seu Idelfonso,o  vizinho e  pegue   aquela galinha.

O Velho logo retrucou:___ cuidado, bote uma mão no bico e a outra nas asas para não fazer zoada
.E eu seu delegado,tirei  a minha sandália e pulei aquele muro como se fosse um gato.Peguei a galinha silenciosamente,para não perturbar as outras,voltei para casa, mãe e pai já estavam com a água no fogo para pelarem a galinha, pelaram ,botaram as penas num saco  e mandaram  jogar lá do outro lado da rua,lá embaixo,bem longe,para que não houvesse nenhuma desconfiança por parte do vizinho.Comemos a galinha e no outro dia, seu Idelfono foi até a minha casa, estava eu,meu pai e minha mãe,indagou se haviam visto  uma  galinha e eles de imediato,na bucha foram logo dizendo.

            ____Nem de galinha nós gostamos,aqui há muito não se come galinha, e eu fiquei impressionado com tamanha mentira,fiquei de boca aberta e achava que  era certo.



        ___Seu delegado,eu mereço apanhar, eu mereço surras e mais surras, pois naquela época se os meus pais tivessem boas atitudes,  me corrigido, puxado as minhas orelhas, me dado umas boas correções, corretivas surras, se falassem a verdade tenho certeza que não seria o indivíduo que sou hoje.Hoje eu sou um moleque, um safado,ninguém me respeita,hoje não compreendo o que é  ética,vivo à margem.Seu delegado pode bater,eu mereço .E aos senhores velhos desequilibrados, vou perdoar ,porém sumam de minhas vistas, desapareçam,puxem de minha vida velhos irresponsáveis.


             O delgado e os soldados após este relato,foram abaixando as cabeças,foram diminuindo de tamanho,atônitos e pálidos levaram os lenços até os olhos,enxugaram os prantos, alguns foram saindo e o delegado em voz trêmula disse:


            ___Soldados, o homem tem cura,o homem não é tão ruim como se pensava, o garoto tem jeito, não foi bem  orientado, o problema foi no seio familiar.Menino a partir de hoje tu terás um pai, uma mãe,irmãos e  uma família,  terás um lar.

Esta história foi minha mãe que me contou para justificar muitas vezes os tratamentos duros que muitos pais  dão aos seus filhos, para a formação do homem,principalmente no seio familiar e para que os pais não fiquem traumatizados diante dos modernos conceitos psicológicos impostos aos pais e que muitas vezes são insuficientes ,proporcionando o desvio de comportamentos,condutas e éticas do jovem de hoje.

Enfatiza  minha mãe,primeiro o diálogo,depois o dialogo,por último o diálogo, na sua ausência ,o amor dos genitores :corretivos mais duros.Um dia os filhos agradecerão e como agradecerão.



Iderval Reginaldo Tenório

  


 

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