domingo, 16 de novembro de 2025

Patativa do Assaré, o congresso da SBAD 2026 no Ceará e a GastroArtista. De 19 a 21 de novembro.

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Na seca de 1958, O  mestre Patativa do Assaré  escreveu ao  Presidente da Republica , o Juscelino Kubitschek , ° ao Governador do Estado do Ceará Dr. Paulo Sarasate.


A seca de 1958 foi de arrasar. Secou os açudes, os rios, as plantações e só os juazeiros com os seus espinhos, os umbuzeiros e os mandacarus grassavam vivos.

 Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha e Jardim ficaram como quarteis para receber os homens que  buscavam o pão. vários foram os campos de concentração em todo o Estado 

                                            Assim falou  o  Patativa do Assaré



Iderval Reginaldo Tenório

De Patativa do Assaré

Iderval Reginaldo Tenório

De Patativa do Assaré

 

A seca de 1958 no Ceará foi uma das mais graves da história, causando miséria generalizada e intensificando o êxodo de cearenses para outras regiões do país, principalmente para a construção de Brasília. A calamidade resultou na perda de lavouras, rebanhos e na falta de água, com o governo federal respondendo com medidas emergenciais que, embora insuficientes para suprir as perdas econômicas, incluíram a criação de frentes de trabalho e o auxílio emergencial.]


DOTÔ ME CONHECE?
Patativa do Assaré
O CEARENSE DO SÉCULO

Seu dotô só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca soube quem sou eu
Nunca viu minha paioça
Minha muié, minha roça
Meus fio que Deus me deu


Se não sabe escute agora
Que eu vô conta minha istora
Tenha a bondade de ouvi
Eu sô da crasse matuta
Da crasse que não disfruta
Das riqueza do Brasi


Sô aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês
Tenho passado na vida
De quatro meis em siguida
Sem cumê carne uma veiz


Sô o que durante a semana
Cumprindo a sina tirana
Da grande labutação
Mode sustenta a famia
Só tem direito a dois dia
O resto é para o patrão


Sô o sertanejo que cansa
De votá sem esperança
Do Brasil fica mio
Mas o Brasil continua
Na cantiga da piruá
Que é pio, pio, pio


Sô o que num tempo da guerra
Contra o gosto se desterra
Para nunca mais vortá
E vai morrê no estrangeiro
Como pobre brasileiro
Longe do torrão nata


Sô o mendigo sem sussego
Que por não achá emprego
Se vê forçado a sigui
Sem direção e sem norte
De porta em porta a pidi


Sô aquele disgraçado
Que nos ano atravessado
Vai batê no Maranhão
Sujeito a todo mal-trato
Bicho de pé, carrapato
E os ataque da sesão

Se o dotô não se infade
Vai guardando essa verdade
Na memória e pode crer
Que eu sô aquele operário
Que ganha o pobre salário
Que não dá para comer


Sô ele todo em carne e osso
Muita veis num tem armoço
Nem também não tem jantá
Eu sô aquele rocero
Sem camisa e sem dinheiro
Cantado por Juvená


Sim, por Juvená Galeno
O poeta, aquele gênio
O maior dos cantadô
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido canto


Há mais de cem ano eu vivo
Nessa vida de castigo
E a potreção não chegô
Sofro muito e corro estreito
Inda tô do memo jeito
Que Juvená me deixou


Sofrendo a mema sentença
Eu já to perdendo a crença
E pra ninguém se inganá
Vô dexá meu nome aqui
Eu sô fio do Brasi
E o meu nome é Ceará.

 


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